sexta-feira, 13 de junho de 2025

LULA PARTICIPA DE VISITA A RÚSSIA AO LADO DE PUTIN

VIAGEM AO PAÍS AO LADO DE LÍDERES AUTOCRÁTICOS GERA CRÍTICAS A LULA E SUAS CONDUTAS

brenoavb@gmail.com 
em: 01/06/2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta sexta-feira (9), do desfile militar realizado em Moscou em comemoração aos 80 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. A cerimônia, realizada na icônica Praça Vermelha, é tradicionalmente marcada por demonstrações de força militar e tem ganhado, sob o governo de Vladimir Putin, uma conotação ainda mais simbólica de poderio nacionalista, sobretudo em meio à prolongada guerra contra a Ucrânia.

A presença de Lula ao lado de líderes como o próprio Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Nicolás Maduro (Venezuela) causou forte repercussão internacional e provocou intensos debates dentro do Brasil. O chefe do Executivo brasileiro foi o único representante de uma grande democracia ocidental a comparecer à solenidade, fato que ampliou o impacto político e diplomático de sua participação. A ausência de líderes de países como Estados Unidos, Reino Unido, França e outras nações da União Europeia – que boicotaram o evento como forma de protesto à ofensiva russa na Ucrânia – acentuou ainda mais o isolamento ocidental da cerimônia.
Segundo o Palácio do Planalto, a viagem presidencial teve caráter estritamente diplomático e está inserida na política externa brasileira de manter canais de diálogo abertos com todos os países, independentemente de sua orientação política ou ideológica. O governo brasileiro reforçou que a presença de Lula no desfile não deve ser interpretada como uma manifestação de apoio às ações militares russas, mas sim como um gesto de reconhecimento histórico aos 26 milhões de soviéticos que perderam a vida durante a Segunda Guerra Mundial.

“Não é ao lado de quem você está numa cerimônia que define seus valores, mas sim o conteúdo da sua política externa. O Brasil segue comprometido com a paz e a democracia”, declarou um assessor da Presidência à imprensa, buscando amenizar os efeitos simbólicos da presença brasileira ao lado de governos considerados autoritários pela comunidade internacional.
Apesar das justificativas oficiais, a decisão de Lula gerou críticas contundentes de analistas e especialistas em relações internacionais. Em entrevista à BBC, cientistas políticos classificaram a participação como um gesto politicamente delicado, com potenciais repercussões negativas para a imagem do Brasil no cenário global. “É um gesto que enfraquece a posição do Brasil como mediador neutro e defensor da ordem democrática internacional”, afirmou a professora Fernanda Magnotta, especialista em política externa.

          Legenda: Lula e Putin em encontro

Na visão desses especialistas, a imagem do Brasil pode sofrer desgaste ao se associar, mesmo que simbolicamente, a regimes frequentemente acusados de violar direitos humanos, reprimir liberdades civis e minar instituições democráticas. A cerimônia, que contou com a presença de cerca de 18 chefes de Estado de países com perfil autoritário, foi interpretada por parte da opinião pública ocidental como um sinal ambíguo vindo do governo brasileiro.

A viagem de Lula também acabou sendo marcada por um episódio diplomático relevante. A Estônia, país báltico integrante da OTAN e da União Europeia, proibiu o avião presidencial brasileiro de sobrevoar seu espaço aéreo em direção à Rússia. A justificativa do governo estoniano foi clara: um protesto político contra a aproximação do Brasil com o regime de Putin. Embora o Itamaraty tenha evitado se pronunciar publicamente sobre o veto, internamente a medida foi classificada como “hostil” e sem precedentes nas relações bilaterais entre os dois países.

Diante desse cenário, diversos analistas interpretam a visita de Lula como parte de uma estratégia mais ampla do Brasil de reposicionar-se em um sistema internacional cada vez mais multipolar. O objetivo seria reforçar vínculos com países dos BRICS — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e reduzir a tradicional dependência da influência política e econômica dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.

Contudo, essa tentativa de equilíbrio geopolítico apresenta riscos. Segundo o professor Leonardo Paz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), “o Brasil está tentando se equilibrar entre Oriente e Ocidente, mas precisa ser claro sobre seus valores. Participar de um desfile militar em Moscou, neste contexto, gera um ruído difícil de apagar”. Para ele, a escolha do governo pode ser vista como um enfraquecimento da postura tradicionalmente neutra e democrática que o Brasil tem buscado projetar internacionalmente.
A presença de Lula nas celebrações dos 80 anos da vitória soviética, portanto, representa um novo e complexo desafio à diplomacia brasileira. Em um mundo marcado pela crescente polarização geopolítica, pela intensificação da rivalidade entre grandes potências e pela escalada de conflitos regionais, o Brasil tenta afirmar sua autonomia sem comprometer sua credibilidade.

Enquanto setores do governo defendem que a aproximação com potências não ocidentais pode trazer benefícios econômicos e diplomáticos — como a diversificação de alianças estratégicas e o fortalecimento da posição brasileira no Sul Global —, críticos apontam que essa abordagem pode corroer a imagem do Brasil como defensor da democracia, dos direitos humanos e da paz internacional.

Em última análise, a participação de Lula no desfile militar em Moscou é um reflexo das complexidades e contradições da política externa brasileira contemporânea. Ao tentar se posicionar como ator global independente, o Brasil precisa navegar com cautela entre gestos simbólicos, alianças estratégicas e os valores que historicamente defende nos fóruns internacionais. O “Dia da Vitória”, comemorado em 9 de maio, é uma das datas mais importantes do calendário cívico russo. Marca a rendição da Alemanha nazista à União Soviética em 1945, encerrando oficialmente a Segunda Guerra Mundial na frente oriental. Sob o governo de Vladimir Putin, a data tem sido cada vez mais utilizada como uma demonstração de força e coesão nacional, com desfiles militares grandiosos, exibição de armamentos e retórica patriótica voltada ao orgulho nacional. Em anos recentes, o evento passou a ter uma conotação política mais acentuada, sobretudo após o início da guerra com a Ucrânia em 2022.

Dentro do Brasil, a viagem de Lula também gerou reações distintas entre parlamentares, especialistas e setores da sociedade civil. Políticos da oposição criticaram duramente a presença do presidente em Moscou, alegando que o gesto contradiz os princípios da política externa brasileira voltada à defesa dos direitos humanos e da autodeterminação dos povos. Já aliados do governo argumentam que o Brasil precisa preservar sua autonomia diplomática e manter diálogo com todos os atores globais, inclusive em tempos de conflito.

 




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